Nos dias 12 e 13 de Maio, o projeto SEMENTES DO SEMIÁRIDO realizou a Capacitação Territorial sobre Seleção, Produção e Multiplicação de Sementes que teve por objetivo orientar agricultoras e agricultores multiplicadores, para a produção e multiplicação das sementes crioulas, adaptadas e varietais, armazenadas nas casas de sementes.

No encontro foram abordadas questões como a área a ser destinada para o plantio, conservação da agrobiodiversidade, sementes transgênicas e híbridas e manejo das sementes crioulas. Depois da verificação começou-se o plantio e este foi realizado numa área de multiplicação e variedades onde foram utilizadas as sementes crioulas dos próprios agricultores, dentre elas a semente de milho do agricultor/guardião, seu Ananias de Deus, que faz parte do Banco de Sementes Esperança e que possui muita sabedoria em multiplicar essa semente a mais de 20 anos, nomeada de milho “Amargoso”. Houve ainda a visita à propriedade do jovem Sérgio Trindade no Sitio Sul, que já vem adotando práticas e formas de plantio agroecológico, manejo sustentável e valorização da agrobiodiversidade e a diversidade de produção, habitações em bio-construção, reutilização e captação de águas, maior respeito com a natureza e redução de impactos, atividade que vem sendo articulada por meio de um grupo de atuação Núcleo de Permacultura do Bem – NUPEBEM.

No chão do nosso sertão o mapa da Bahia (utilizado como mística) possibilitou a construção coletiva de todos/as e a reflexão sobre a importância da terra que ainda está concentrada nas mãos de poucos. É muita terra para o agronegócio, as monoculturas (concentração que gera pobreza) e muita gente “sem terra” querendo ter terra para plantar e produzir alimento.

As sementes são os frutos das comunidades e, as casas de sementes são a forma estrutural de mantimento, pois a cada ano as sementes vêm com mais força, resistência, convivência com o semiárido, adaptadas ao local. Como patrimônio dos povos, como resgate de cultura, história, soberania, partilha e comunhão entre pessoas trazendo como foco a casa de sementes que é casa de educação, saberes e sabores. “casa nossa”, “casa de sonhos”, “casa da esperança” “casa flor do sertão”, “casa da divina providencia”, são tantos nomes que por si só já contam as histórias advindas das comunidades e que, de alguma forma, é a historia de seu povo. E essa reciprocidade não para por aí, pois nos espaços de intercâmbios os agricultores e agricultoras de diversas regiões e comunidade aproveitam para fazer as trocas, garantindo o resgate de sementes perdidas ao logo dos tempos. Além disso, nos intercâmbios surgem novas amizades e reencontro de companheiros e companheiras. Sobre isso seu Cordeiro destacou: “quando vejo este momento, que pra mim é forte, vejo todas e todos, guardiãs e os guardiões das sementes; isso me recorda do antigo testamento que dizia que a arca da aliança tinha dois protetores. E quem era? Dois guardiões, dois anjos que guardavam a todo tempo a arca, porque ali dentro da arca tinha algo muito importante, isso me refere à casa de sementes e vocês guardiãs e guardiões protegendo essas sementes”.

Ainda em sua fala Cordeiro nos apresentou a diversidade e a importância do plantio consociado, ou seja, plantar variedades num mesmo local, porque além de produzir alimento com fartura (muita coisa junta), também é uma forma de proteção para o solo, já que prolifera micro-organismos.

Como é possível perceber, as guardiãs e os guardiões são então os contadores de histórias e de vidas através das sementes, sementes essas que carregam a história de sua gente. Gente de resistência e luta. Logo, trocar sementes é quase um ritual. São também uma das formas de empoderar as comunidades.

Por Equipe de Comunicação CEDASB

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