Foi realizado quarta (24) e quinta (25) da semana passada na cidade de Bom Jesus da Serra-BA, o IIº Módulo em Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido com os/as professores/as dos municípios de Mirante e Bom Jesus da Serra – BA, vindos/as das diversas comunidades escolares inseridas no Projeto Cisternas nas Escolas. E nesse segundo encontro de formação teve dinâmica de interação, troca de saberes e experiências, aprendizado e ensinamento, professores/as já colhendo alguns resultados de aulas contextualizadas e muita alegria e encantamento na visita ao Banco de Sementes Crioulas da comunidade de Bom Jesus de Cima.

Com uma bela e profunda mensagem de acolhida feita pela equipe da secretaria de educação de Bom Jesus da Serra a atividade teve início com um estudo em grupo. O aprofundamento sobre o processo educacional na perspectiva tradicional e conservadora serviu de base para a contraposição a esse molde, a partir de uma forma de educação libertadora e popular. Nos diversos grupos de reflexão, debate e depois na socialização em plenária, os/as professores/as apresentaram os resultados da discussão destacando pontos e contrapontos dessas duas vertentes da educação. E assim expressou a professora Beatriz da comunidade escolar do Areão (Mirante-BA) em uma de suas falas: “vimos aqui dois caminhos da educação, e diante disso percebemos essa urgente necessidade em disseminar essa educação libertadora que ajude o aluno a pensar por si próprio. Esse projeto cisternas nas escolas juntamente com a proposta da educação contextualizada nos ajuda a irmos na contramão desse modelo de educação tradicional que escraviza nossas comunidades”.

Outro momento marcante desse IIº Módulo foi a socialização das atividades realizadas com os alunos numa perspectiva contextualizada, a partir das diversas experiências compartilhadas no Iº Módulo realizado em Mirante. E os resultados foram surpreendentes, muita gente aprendendo e ensinando a partir do chão que se vive. Fazendo valer na prática o mais certo dos dizeres da sabedoria popular: “a educação não pode se dar ao luxo de ignorar o chão que se pisa”. E desse modo se procedeu as apresentações dos belíssimos resultados de algumas atividades desenvolvidas na prática com os alunos. Como foi o caso da Escola Jânio Quadros da comunidade do Gavião (Mirante), onde na região do maracujá, a velha história da “Chapeuzinho Vermelho” virou causo da “Chapeuzinho Amarelo”, causo esse que serviu de contexto de trabalho sobre o fruto do maracujá, sua nomenclatura, o processo de polinização pela abelha solitária, o Mangangá (abelha Mangangava), utilidades culinárias e benefícios à saúde. E no final disso tudo, nada de cesta de bolo, a chapeuzinho amarelo levou suco de maracujá para a vovozinha dela. Segundo a professora Lúcia, a turma toda se envolveu nessa trama, “onde acabou que os alunos não deixaram bater ou maltratar o lobo, pediram pra levar e soltar bem longe dentro da roça. Na abordagem dos temas sobre o maracujá todos estavam ligados e bem participativos”. Resultado também alcançado pelo professor Dorival da escola Tiradentes de Mirante, onde ele trabalhou com sua turma a palma como elemento de convivência com o semiárido. E no final de tudo a aula terminou com um belo e saboroso cortado de palma forrageira.

O segundo dia de atividade foi marcado pela visita ao Banco de Sementes dos Sonhos, na comunidade de Bom Jesus de Cima, que fica situado na propriedade dos guardiões Francisco (conhecido como “seu tico”) e Lourdes. Os/as professores/as conheceram as instalações e o funcionamento da casa de sementes e escutaram dos guardiões sobre as sementes crioulas e seu processo de resgate, estocagem e garantia de uma semente limpa e livre dos venenos. E diante da bonita e valiosa experiência dos/as agricultores/as experimentadores, Lourdes e Francisco, e de sua lida com as sementes crioulas, como trabalhar isso na vida da comunidade escolar de forma prática? O que aprender e levar ‘pras’ diversas realidades daquilo que foi visto e escutado desses educadores/as do semiárido? Dessas e outras indagações vieram palavras apuradas do sentimento extraído do coração ditas pelos/as professores/as ali presentes, que formaram a Peneira dos princípios e compromissos da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido: “dedicação”, “esforço”, “luta”, “sementes da vida”, “semiárido vivo”, “sementes da educação”, “força feminina”, “valorização dos saberes”, “respeito à diversidade”, etc…

Por fim, mais um importante e significativo passo foi dado com a realização desse IIº Módulo, as sementes foram lançadas e já é possível vê-las germinarem no jardim do nosso semiárido. A atividade foi encerrada já na expectativa do IIIº e último módulo, que será realizado em Mirante já no mês de setembro. E por aqui seguimos nossa caminhada nos carreiros do nosso Sertão vivo e pulsante, cheio de vida e possibilidades.

Texto e imagens – Comunicação CEDASB