Terça feira da semana passada (24/05), a Comunidade de Bom Jesus de Cima no município de Bom Jesus da Serra-BA recebeu mais uma caravana de agricultores e agricultoras, vindos/as das regiões do norte de Minas dos municípios de Montes Claros (CAA-Centro de Agricultura Alternativa/MG) e Araçuaí (Cáritas/MG). Os/as Agricultores/as vieram com o objetivo de intercambiar conhecimento e conhecer as experiências da comunidade local com o cultivo e estocagem de Sementes Crioulas.
Esse intercâmbio, ‘Bahia-Minas’ tem toda uma história especial que demonstra na prática o valor e a importância dos agricultores e agricultoras do nosso Semiárido, em serem os protagonistas de sua própria história, assim como agentes transformadores em suas comunidades de origem. Veremos mais adiante, de forma direta o porquê dessa forte ligação e correlação entre o Banco de Sementes dos Sonhos da comunidade de Bom Jesus de Cima e o povo do semiárido mineiro.
Após a chegada e acolhimento dos/as agricultores/as chegantes, a primeira atividade do dia foi visitar à belíssima e “farturenta” horta de Jessí, onde os/as agricultores/as visitantes puderam “proziar” e trocar conhecimentos sobre a diversidade de hortaliças, verduras, plantas medicinais e ornamentais cultivadas em uma pequena área da propriedade de dona Jessí. E a proza foi de grande proveito, gente que se encantou com a diversidade de plantas cultivadas em um mesmo espaço, reencontro e resgate de ervas medicinais, que até então se perdera em diversas comunidades das regiões mineiras. Plantas ornamentais com diferentes nomes e expressões características de acordo à realidade e região de cada agricultor/as, e assim cada um/a expressou seu conhecimento e seu encantamento frente à diversidade contemplada na experiência ali visitada. Experiência essa, que Jessí fez questão de destacar: “boa parte de toda essa produção que vocês estão vendo aqui, terá como destino o armazenamento no nosso Banco Comunitário de Sementes. E cada lavrador aqui da comunidade sabe desse compromisso: é preciso separar parte da produção com a finalidade de guardar as sementes…”.
Na parte da tarde os/as agricultores/as se deslocaram para conhecer a Casa de Sementes dos Sonhos que fica na propriedade de seu Francisco, ou seu “Tico”, como é popularmente conhecido em toda a região. E lá seu Tico fez questão de coordenar e conduzir todo o momento, apresentando e explicando detalhadamente como toda essa bonita experiência com as Sementes crioulas começou. É aqui que está a intensa relação entre o Banco de Sementes da comunidade de Bom Jesus de Cima com o povo mineiro, pois no ano de 2012, dona Jessí foi designada a participar de um intercâmbio do P1+2 na região de Araçuaí/MG, e nesse mesmo intercâmbio ela conheceu uma Casa de Sementes e de lá trouxe algumas pequenas sementes, incluindo a ideia de poder implantar uma casa de sementes em sua comunidade. “A Boa Semente” foi plantada e hoje, quatro anos depois, parte do mesmo povo que recebeu dona Jessí nas terras semiáridas do estado de minas vieram ver e conhecer o “fruto” colhido, resultado da pequena sementes trazida e plantada nas terras sertanejas da comunidade de Bom Jesus de Cima: a Casa de Sementes dos Sonhos.
Ao convite fraterno de seu “Tico”, em nome dos/as guardiões/as do Banco de Sementes dos Sonhos, os/as agricultores/as chegantes adentraram à casa de sementes e puderam conhecer e trocar conhecimento e sementes foi conversa de quem entendem da labuta e da importância de se ter uma semente pura e sem veneno. Na oportunidade foi lançado e entregue oficialmente o Boletim informativo “O Candeeiro”, que trouxe nessa edição o destaque para a importância dos mutirões para a construção dos Bancos de Sementes na região de Boa Nova e de Bom Jesus da Serra, de forma especial os diversos mutirões que ajudaram na construção da Casa de Sementes dos Sonhos.
Da parte dos/as agricultores/as guardiões da comunidade de Bom Jesus de Cima ficou o relato e o testemunho de que a semente da fartura é a mesma semente da esperança e da união, que germina e produz bons frutos que nos alimentam e nos dá vida. Da parte dos/as agricultores/as visitantes deixaram seu conhecimento e retornaram com a certeza da responsabilidade e missão de cada um e de todas as comunidades envolvidas, em cultivar esse sentimento de pertença e da contínua necessidade de caminharem juntos e numa mesma direção.
Texto e imagens: Núcleo de Comunicação Popular do CEDASB