Um intercâmbio intenso de suas práticas diárias agroecológicas, que envolve do manejo de sementes crioulas às soluções cotidianas em meio à diversidade do Semiárido. A rica cultura de saberes e sabores de povos da região semiárida será pauta do IV Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido, que tem como tema: “Guardiões da biodiversidade cultivando vidas e resistência no Semiárido”. O evento reunirá 300 agricultores e agricultoras familiares dos nove estados do Nordeste e também de Minas Gerais, de territórios incluídos na região semiárida, de 06 a 09 de junho na sede do BANESE em Aracajú (SE).
O evento é promovido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) uma rede formada por mais de três mil organizações envolvidas com as temáticas da agricultura familiar de base agroecológica e convivência com o Semiárido. O encontro tem como objetivos promover o intercâmbio de agricultores e agricultoras na produção e disseminação de conhecimentos e experiências para a convivência com o Semiárido e fortalecer e valorizar o papel das famílias agricultoras e de suas comunidades enquanto guardiãs de sementes crioulas, assim como das estratégias de gestão coletiva de sementes por meio das casas e bancos de sementes comunitários.
“Um encontro da magnitude do Encontro Nacional de Agricultores/as Experimentadores/as é um espaço de compartilhamento de experiências e para nós de Sergipe é uma satisfação muito grande receber pessoas de todo Semiárido brasileiro para celebrar as conquistas históricas, para denunciar as mazelas e para intercambiar as boas experiências que temos por aqui com as experiências que vem dos estados”, avalia o coordenador da ASA pelo estado de Sergipe, João Alexandre de Freitas Neto.
O coordenador ainda destaca que o encontro é o espaço para falar de quais ameaças os povos do Semiárido correm, a partir dos retrocessos embasados nos processos históricos das conquistas alcançadas. As caravanas partem rumo à Sergipe na próxima semana. Da comunidade quilombola Vilão, do município de Massapê do Piauí (PI), o agricultor e apicultor Ailton José da Costa, vai levar a experiência adquirida com os agroecossistemas de sua propriedade. “Trabalho sem usar veneno. Planto abóbora, melancia, cheiro verde, tomate, feijão, milho. Crio também a abelha italiana e faço parte da Associação de Apicultores da Boa Vista. Quero adquirir novos conhecimentos neste encontro e levar minha identificação com a minha região”.
A programação do encontro contará com a feira de saberes e sabores “Agricultoras e agricultores experimentadores cultivando conhecimentos para a convivência com o Semiárido”; visitas de intercâmbio as regiões do Alto Sertão, Sertão Ocidental e do Médio Sertão, plenárias, oficinas temáticas, atividades culturais, feira de troca de sementes do Semiárido.
O encontro faz homenagem ao processo de luta e resistência do povo indígena Xokó, da comunidade Ilha de São Pedro, do município de Porta da Folha (SE). Esse povo foi oprimido por capuchinhos e jesuítas que queriam catequizá-los – o que levou a perda da identidade – e também por fazendeiros que os perseguiam com jagunços e os obrigavam a arrendar sua terras. Mesmo com todos os desafios a aldeia resistiu e lutou para conquistar o título de posse da terra – reconquistaram o território em 1993.
“A identidade Xokó por si só representa pra nós a luta e resistência e isso nos empolga bastante. Ter a participação dos indígenas no nosso encontro será algo imensurável no que concerne a sua representatividade. Teremos algo especial com a participação deles, inclusive com um espaço para exposição e comercialização das suas peças de artesanato”, explica Alexandre.
Visitas de intercâmbio – O segundo dia do encontro, dia 7, contará com as visitas para troca de experiências entre agricultores e agricultoras. Serão 24 visitas com participação das caravanas que vieram dos demais estados do Semiárido (Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Maranhão e Minas Gerais). As visitas aos povos do Semiárido sergipano abordarão temáticas como auto-organização de mulheres, o manejo do bioma da Caatinga, acesso à água, entre outros. Enquanto no terceiro dia, 8, ocorrerão as oficinas temáticas que debaterão temas como: água, criação animal, apicultura, beneficiamento, sementes, comercialização, etc.
A agricultora e coordenadora de mulheres do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras, Agricultores e Agricultores Familiares de Canindé (CE), Antônia Antonieta Santana da Silva, conta que a cada encontro que participa retorna mais fortalecida para o assentamento de Tiracanga, em Sertões do Canindé, onde mora. “Quando volto aos meus trabalhos de base faço o repasse para as companheiras e companheiros do sindicato. Conversar com pessoas que fazem o mesmo serviço que a gente é importante por que elas fazem de um outro jeito”, observa.
Texto e imagem – Asa Brasil