Delegações de todos os estados do Nordeste se reunirão no Recife/PE, nos dias 27 e 28 de fevereiro, para participar do Encontro Regional de Agroecologia (ERÊ/NE). As atividades acontecerão no auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (ADUFERPE). O ERÊ Nordeste é um dos cinco eventos regionais preparatórios para a realização do IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA), que acontecerá em Belo Horizonte/MG, de 31 de maio a 03 de junho deste ano, reunindo mais de duas mil pessoas.
Fruto da mobilização de várias organizações, movimentos sociais, instituições de pesquisa e ensino, o ERÊ Nordeste visa o fortalecimento da agroecologia na região. “O Encontro é também uma oportunidade de buscar convergências com outras organizações que não fazem parte diretamente do campo agroecológico, mas entendem a agroecologia como importante para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento. Não há agroecologia sem diálogo com os movimentos urbanos, da cultura popular, redes e movimentos feministas, coletivos de comunicação, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais, entre outros”, explica Alexandre Pires, coordenador da ONG pernambucana Centro Sabiá e um dos organizadores do ERÊ.
Outra expectativa da organização do encontro, segundo Pires, é que se consiga construir e pactuar, de forma articulada entre os nove estados do Nordeste, a presença da região no Encontro Nacional de Agroecologia. “Espera-se também que os debates sejam motivadores para que os estados realizem suas caravanas, seus encontros e seminários estaduais voltados para a realização do ENA, buscando o debate sobre a democracia e a agroecologia na construção da unidade do campo e da cidade”, conclui. Durante o ERÊ também serão definidas as oito experiências territoriais agroecológicas que irão compor as Instalações Pedagógicas do Nordeste no IV ENA.
Para Carlos Eduardo Leite, Caê, coordenador da ONG baiana Sasop e um dos organizadores do ERÊ, “o encontro do Nordeste não é um encontro massivo, seus participantes, cerca de 150, são pessoas com capacidade de mobilização nos estados, com representação diversa, de mulheres, juventudes, comunidades tradicionais, pescadores/as artesanais, movimentos sociais, representantes da academia, especialmente dos núcleos de agroecologia”.
Nesse sentido, um elemento de destaque no ERÊ será a construção do Rio da Vida das Mulheres, que posteriormente deverá ser multiplicado nos encontros estaduais. Segundo Verônica Santana, do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), e que também está na organização do evento, construir a memória das mulheres na agroecologia é um passo importante para trazer à tona o protagonismo delas e reforçar o lema de que sem feminismo não há agroecologia. “Queremos saber: como nós mulheres estamos construindo e praticando a agroecologia? Como estamos incidindo nas políticas de agroecologia? Nós mulheres sempre fizemos parte da agroecologia, não somente a partir das nossas práticas nos quintais e nos roçados, mas também a partir da participação política nos movimentos, na construção de políticas públicas, nas universidades e nas pesquisas. E para isso é fundamental que essa metodologia vá para os estados para chegarmos no ENA fortalecidas”.
Programação – Estão previstas uma roda de conversa sobre “Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade”; realização de um carrossel de quatro experiências agroecológicas desenvolvidas em rede em territórios da Bahia, Pernambuco e Ceará; e seis seminários temáticos (Mulheres, feminismo, economia feminista e combate à violência; Mudanças climáticas e água: conservação e democratização do acesso e gestão; Construção do conhecimento agroecológico, comunicação, cultura e educação do campo; Agriculturas urbanas, direito à cidade e juventudes; Sementes, sociobiodiversidade e plantas medicinais; Políticas públicas para a agroecologia). Em cada seminário serão apresentadas três experiências com enforques diversos na abordagem de cada tema.
IV ENA – O IV ENA é convocado por dezenas de organizações, redes e movimentos sociais de todo o Brasil e realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). O lema desta quarta edição é “Agroecologia e Democracia Unindo Campo e Cidade”. “Todo o processo de mobilização para o IV ENA é também um momento de fortalecimento das organizações do campo agroecológico. As experiências são visibilizadas, as articulações são renovadas, num momento difícil do Brasil”, esclarece Caê.
“Considerando o momento que estamos vivendo, de ameaças, devemos construir o ENA como um processo de mobilização social em defesa da agroecologia, mas, sobretudo, em defesa da democracia brasileira”, explica Alexandre Pires, referindo-se à escolha do lema. “Por isso, a mobilização para o ENA significa mobilizar a sociedade em prol da democracia, contra o estado de exceção. Esse é o maior desafio desse momento, congregar os debates da democracia e da agroecologia.”
Para Pires, “o que está em jogo é muito mais do que a disputa sobre processos de produção de alimentos, se agroecológico ou convencional, mas está sob ameaça o direito e a capacidade de participação da sociedade, o respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras… Está sob ameaça a democracia. O lema escolhido é, portanto, a afirmação do posicionamento político da ANA na defesa irrestrita do estado democrático de direito”.
Essa visão é partilhada por Caê. Segundo o representante da Bahia, “diferentemente de outras edições do ENA, para o próximo encontro nós temos uma ampliação dos atores em torno da ANA, seja nos territórios, nos estados ou nas regiões. Essas organizações, redes e movimentos também se fortalecem nessa mobilização. Vários desses novos atores são tradicionalmente urbanos. Buscar esse diálogo entre campo e cidade é uma novidade em todo o processo de mobilização do IV ENA, e isso inclui as parcerias para o ERÊ Nordeste”
*Colaboraram: Fernanda Cruz /ASA, Verônica Pragana/ASA e Luciana Rios/Sasop – Coletivo de Comunicação ERÊ Nordeste