No período de 26 de junho a 05 de julho de 2023, a ASA Bahia e o CEDASB, fez-se presente no Segundo Programa de Formação em Agricultura Resiliente ao Clima do DAKI – SEMIÁRIDO VIVO, com participação no intercâmbio ao Grande Chaco Argentino. A experiência de conhecer outros semiáridos foi muito enriquecedora. A rota que percorremos somou-se quase 2000 km em 7 dias de estrada!
Dentre as realidades encontradas, e no geral, o que mais ficou evidenciado nas falas e nas vivências das famílias foi a luta camponesa pelo acesso à terra e a água. A maioria das comunidades visitadas são Comunidades Criollas e de Povos Originários Guarani e Wichi. A FUNDAPAZ¹, bem como demais parceiros, é essencial no processo de mediação – junto aos órgãos competentes, nas negociações de demarcação e de defesa dos territórios indígenas e criollos. Há uma pobreza estrutural latente em parte desses territórios, mas há na contramão dessa condição imposta, muita resistência, resiliência, cultura e ancestralidade. A luta pela terra e pela água se desdobra na luta pelo alimento. Por isso, por onde passamos o povo demonstrou compreensão de que a luta que estão ainda travando com o Estado Argentino, e também com a estrutura fundiária opressora do Chaco, é a luta pelo direito de existirem.
Nas Comunidades dos Povos Originários Guarani, percebemos um outro estágio de organização comunitária e produtiva, sob os princípios da Agroecologia, onde pudemos ver maior diversidade produtiva e de beneficiamento de alimentos, bem como inserção de mulheres e homens nesse movimento de produção de comida nas comunidades. O artesanato em todas as comunidades visitadas se apresenta como manifestação da própria cultura e saberes ancestrais dos povos indígenas.
Foram visitadas também, comunidades tradicionais que tem um forte movimento de mulheres, preponderantemente, e homens na defesa dos recursos hídricos, em destaque as florestas e os rios. A visão da importância desses recursos naturais para a manutenção da vida humana é belíssima. A grande maioria das famílias compreendem a simbiose existente entre a natureza (naturaleza – em espanhol) e sua existência.
Foi muito interessante a oportunidade da ASA BAHIA e CEDASB estarem representadas em uma vivência em outro semiárido, com irmãos e irmãs de luta e de alegria, observando e refletindo nossas características em comum, e as nossas diferenças. Nessa caminhada foi possível e fácil, observar como o trabalho que a FUNDAPAZ realiza nesta região foi, e é, de fundamental importância para a conquista de direitos e para a luta por políticas públicas. Nos lembrou muito a caminhada da ASA no Brasil, em busca da difusão e consolidação da Convivência com o Semiárido. É notório que o Semiárido Brasileiro se encontra em um estágio diferenciado, pois por aqui já conquistamos e acessamos muitos direitos, inclusive por meio das políticas públicas governamentais, embora ainda tenhamos uma longa estrada a ser percorrida pela frente. Mas, na Região norte Argentina – no Chaco, o Estado ainda não introduziu suas pautas no rol de prioridade em suas políticas de governo. E, falar do Chaco é mencionar, primordialmente, a existência de uma população indígena e camponesa que se desdobram para juntos manterem-se firmes na luta, e se unindo a outros para terem seus direitos básicos garantidos, enquanto que nessa resiliência produzem e difundem cultura, sabedoria ancestral e ética ambiental.
Importante lembrar que há 10 anos a FUNDAPAZ iniciou a implantação de tecnologias sociais de captação da água da chuva nessa região do Chaco, inspirada no trabalho da Articulação Semiárido Brasileiro. E, poder visitar a comunidade onde a primeira cisterna foi construída e como eles trabalham os cursos de formação, como o Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH) foi muito emocionante, foi como voltar no início dos anos 2000 na região semiárida do Nordeste Brasileiro. É importante enaltecer esse trabalho revolucionário que a FUNDAPAZ realiza nas comunidades, que além de implementar junto as famílias as tecnologias sociais, também implementou um laboratório de análise e da qualidade da água das cisternas construídas. Serviço gratuito para os camponeses e camponesas.
Então, dessa forma, entre lágrimas e alegria, me senti abençoada de estar naqueles lugares e com aquelas pessoas. Senti como se os camponeses e nós das Organizações da Sociedade Civil estivéssemos interligados, interconectados, mesmo na distância física, sem termos consciência disso.
Registro a minha eterna gratidão a ASA BAHIA por terem me escolhido para cumprir essa missão, e ao Projeto DAKI, e toda sua equipe, por ter nos proporcionado tamanha imersão no semiárido argentino. À tradutora Esther, todo o carinho e agradecimento por tornar o entendimento da língua um processo tranquilo, e interessante. À FUNDAPAZ e toda sua maravilhosa equipe, DEUS OS/AS ABENÇOE por tudo que fizeram pela delegação do Brasil. Que continue próspera e frutífera a jornada da FUNDAPAZ nesse, e em demais territórios. O Semiárido e sua gente agradece!
Texto: Eliane Almeida, Participante do Intercâmbio Internacional e Coordenadora de Projetos do Cedasb
¹A FUNDAPAZ é uma organização civil sem fins lucrativos que desde 1973 trabalha pelo desenvolvimento rural sustentável, com organizações indígenas e camponesas, no Norte da Argentina.