Trinta e oito agricultoras e agricultores do Município de Vitória da Conquista – BA, das comunidades Olho D’água, Ribeirão, Santa Rita e Poço Comprido, participaram do intercâmbio sobre bioágua familiar e fossa séptica nas comunidades Poço Comprido e Farinha Molhada, nos dias 14 e 15 de junho de 2018.

O intercâmbio faz parte das atividades coletivas previstas no projeto de ATER executado pelo CEDASB e financiado pelo Governo do Estado através da Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR/BAHIATER e tem como objetivo a troca de experiências entre os(as) agricultores(as) para a construção coletiva do conhecimento. A metodologia privilegia a aprendizagem a partir da adaptação às suas realidades locais, onde os participantes são estimulados a replicar as experiências em suas unidades de produção.

No primeiro dia do intercâmbio, a família do agricultor Valdívio Santos, da Comunidade Poço Comprido, recebeu os participantes em sua unidade produtiva, e compartilhou sua experiência com o sistema de bioágua. Valdívio, que já foi acompanhado pelo ATER/MDA do CEDASB, comentou que foi através de um intercâmbio do ATER na Comunidade Poço Dantas em Planalto-BA, que ele teve a oportunidade de conhecer a tecnologia social de reaproveitamento da água do uso doméstico (água cinza) e resolveu aplicar em sua Unidade de Produção Familiar (UPF).

O Bioágua é um sistema de reuso da água cinza, e consiste em canalizar todas as águas de uso doméstico, com exceção da água do vaso sanitário, para um processo de filtragem por mecanismos de impedimento físico e biológico dos resíduos presentes na água cinza, sendo a matéria orgânica biodegradada por uma população de microorganismos e minhocas (minhoca californiana). Com a digestão e absorção da matéria orgânica retida na água pelas minhocas, ocorre à retirada dos principais poluentes da água cinza.  A água de reuso pode ser utilizada para a irrigação de hortaliças, frutas, plantas medicinais e outros tipos de alimentos.

Durante a troca de experiências, Valdívio falou sobre as adaptações e a instalação do sistema bioágua familiar em sua Unidade Produtiva com os seguintes componentes: um galão de 20L para retenção da gordura e das partículas mais pesadas; canalizado para um balde de manteiga, onde é retirada outra camada de gordura e sabão; canalizado para CAIXA FILTRO contendo uma camada de seixo rolado (rocha ou brita) de 20cm; uma camada de areia (10cm), uma camada de pó de serra (50cm); e a ultima camada de esterco com minhoca californiana (20cm). Posteriormente a água é transferida para o TANQUE DE REUSO, onde a água é armazenada para ser usada na irrigação das hortaliças e frutíferas e dessedentação de pequenos animais.

O segundo dia de intercâmbio foi na comunidade Farinha Molhada, onde os(as) agricultores(as) puderam conhecer a experiência da família do agricultor Edilson Dutra, beneficiário do ATER SDR/BAHIATER, que conduziu o intercâmbio falando sobre as tecnologias sociais presente em sua UPF. A primeira experiência que os participantes puderam conhecer foi a de construção e utilização da fossa séptica.

A fossa séptica é um sistema simples desenvolvido para tratar o esgoto dos banheiros de residências rurais. Com esta fossa o esgoto é lançado dentro de um conjunto de três caixas d’água ligadas uma a outra e ao entrar neste conjunto de caixas d’água, o esgoto é tratado pelo processo de biodigestão que reduz muito a carga de agentes biológicos perigosos para a saúde humana. O tempo da biodigestão varia conforme a temperatura e a quantidade de pessoas que estão utilizando a fossa. O líquido que se acumula na terceira caixa d’água da fossa séptica é um biofertilizante que pode ser utilizado para adubar árvores, milho, capim entre outros.

Edilson conheceu o sistema de fossa séptica através de pesquisas na internet e, por meio da assistência técnica prestada pelo CEDASB, obteve o apoio do técnico Rogerio Macedo para construir e corrigir alguns problemas. Na oportunidade, Edilson explicou aos agricultores o processo de construção e funcionamento da fossa, mostrando qual a função de cada um das três caixas d’água e do alimentador onde ele coloca esterco fresco a cada 15 dias para alimentar o sistema de biodigestão da parte sólida. Os agricultores puderam perceber que a água que saia da ultima caixa não possuía resíduos e que Edilson utilizava para molhar a roça de palma.

Durante a visita a UPF de Edilson, os participantes do intercâmbio também puderam conferir a experiência do sistema de bioágua que Edilson também conheceu na Comunidade de Poço Dantas, através de um intercâmbio promovido pelo CEDASB/BAHIATER. O sistema de filtragem do bioágua de Edilson é diferente do sistema de Valdívio, pois, tem apenas um filtro feito de alvenaria com um balde de manteiga perfurado funcionando como filtro de gordura e resíduos mais pesados. A tubulação leva a água para o segundo filtro de construído com placas de cimento. A água tratada, resultante do sistema, é utilizada para irrigação dos canteiros de hortaliças e frutíferas.

Os dois dias de intercâmbio foram marcados por uma extensa troca de experiências e pelo espírito encorajador de replicar as tecnologias sociais que foram visitadas. Os agricultores enxergaram que o sistema de bioágua e a fossa séptica são recursos potencialmente relevantes para a convivência com o semiárido. Pois, além de contribuir com a produção de alimentos, a coleta e o tratamento da água cinza e do esgoto é um importante avanço para o meio ambiente e para saúde pública, ao evitar a degradação e contaminação do ambiente.

TEXTO: Jacqueline Viana, Washington Moreira e Terêncio Rodrigues.

IMAGENS: Equipe Técnica ATER CEDASB/BAHIATER