Quando começamos a descer a serra da Água Doce logo de longe avistamos uma fumaça, era um sinal de que ali ia ter uma festa, lembrávamos que estávamos no mês de Novembro, mês que é intitulado de Novembro Negro, mês da Consciência Negra.

A festa de fato ia acontecer. Os protagonistas…

Era fato ser um local muito longe, um local escondido, um local muito difícil de se chegar, por uma questão estratégica de localidade. Assim são os quilombos que lá nos recantos desse imenso Brasil nasceram com muita luta, resistência e suas formas de celebrar a vida.

Era uma estratégia dos escravizados que fugiam para os recantos, em áreas de difícil acesso para não serem achados pelos os senhores de escravos e os capitães do mato. O Quilombo fica sempre distante e é um lugar que nos remete a luta, a resistência, alegria e convivência…

Ao chegar à comunidade de quilombo de Água Doce, o cenário era poético, um cenário que nos remetia a nossa ancestralidade, a identidade do nosso povo que fugido vieram parar ali. Era um grito que ainda ecoava no ar, um grito que ainda resistia. Um grito que muitas vezes era um misto de alegria e dor.

Existia um olhar de alegria na face envelhecida da senhora, que permanecendo lá no canto encostada a uma parede, parecia rezar no seu silencio observador. SABEDORIA. Uma sabedoria das mulheres, as descobridoras das sementes.

Era uma alegria no canto da batida do pandeiro de seu Nicanor que cantando fez o canto entoar, e não era mais a tristeza do passado, era a alegria de uma liberdade, uma liberdade que hoje é cantada e ouvida.

Vimos em cada batida, o santo, a crença, a cultura, a dança e nós lá no meio, era o Coco, o Samba de Roda, a Ciranda, o Reisado… E de repente a poesia da jovem quilombola Carolina de Jesus invadiu a sala e sua voz declamando era um acalanto suavizando, misturando as batucadas do tambor.

Ela dizia assim:

“Quilombos um conjunto de aldeias onde os escravos iam esconder, Palmares era o mais famoso, homens negros querendo vencer e os brancos tentando destruir um povo que queria crescer”…

Nessa mística de encanto e canto que foi inaugurado mais uma casa de sementes no dia 26 Sábado, a Casa de Sementes Quilombola Pereira, uma realização do projeto Sementes do Semiárido, executado pelo o Cedasb e ASA.

Texto e imagens – Comunicação CEDASB

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