O Intercâmbio da trilha formativa Juventudes Semiáridas Rumo à COP 30 aconteceu entre os dias 29 de setembro e 04 de outubro reunindo, em Caruaru (PE), jovens da Nicarágua, El Salvador, Argentina, Colômbia e Brasil para debater questões climáticas pensando a incidência a partir dos territórios de vivência.

A crise climática é um tema urgente e, por isso, é necessário entender como nossos territórios têm sido afetados para que, dentro de um projeto coletivo, sejam traçadas estratégias de adaptação, mitigação e enfrentamento das perdas e danos da nossa biodiversidade. Dessa forma, o intercâmbio proporcionou um momento de troca de experiências e aprendizados, onde as juventudes semiáridas da América Latina protagonizaram o debate político acerca da crise climática tendo as regiões semiáridas como centro da discussão. A jovem Joice Santos, por meio da Plataforma Semiárido e Terre des Hommes, participou deste momento como força representativa do Cedasb e como uma das jovens delegadas que contribuirá com sua voz para o debate climático global.

Nesse espaço formativo, construiu-se a reflexão de quem tem tido o poder para decidir sobre clima no Brasil e no Mundo e se debateu sobre a importante participação popular nesses espaços como forma de pressionar aqueles e aquelas que atuam de forma direta nas decisões. As juventudes semiáridas da América latina são um elo importante nessa luta e tem se articulado de forma estratégica dentro de redes e coletivos organizados para fazer ouvir suas particularidades e reinvindicações.

 

 

A trilha formativa começou com uma recepção organizada pelo Centro Sabiá e a construção de acordos de convivência, bem como da linha do tempo da Plataforma Semiáridos e da rede de juventudes semiáridas, o que proporcionou aos jovens visualizar, compreender e/ou recordar os caminhos que foram traçados até aqui. Um segundo momento foi direcionado por Marhyan e Gabriela, idealizadoras e dirigentes do Perifa Sustentável – uma organização fundada por três mulheres negras da Brasilândia (SP), que tem uma atuação direcionada a democratizar a pauta climática dentro das periferias, comunidades e favelas a partir dos temas raça e justiça climática. Elas promoveram uma reflexão, para despertar no grupo, os elementos que os levam a incidir politicamente em espaços como o da COP 30, em defesa de nossos biomas e territórios.

No segundo dia de intercâmbio, houve um momento mais direcionado para o debate sobre a participação das juventudes semiáridas na COP30, ressaltando que os debates nas grandes conferências constroem discussões distanciadas dos saberes comunitários e tradicionais com o objetivo de limitar a participação popular. Portanto, foi necessária uma preparação para garantir a participação nos diferentes espaços, compreendendo como a COP funciona e garantindo assim uma participação efetiva dentro das regras e normas. Este espaço de debate possibilitou a reafirmação de que os semiáridos são territórios que há vida, florestas e biodiversidade. Sendo assim, é fundamental ocupar espaços e pensar ações para além da COP30. Ainda foram feitos apontamentos de questões relevantes para a construção coletiva de uma carta das juventudes dos semiáridos da América Latina.

No terceiro dia desta experiência, a jovem camponesa Larissa, assessorada pelo Centro Sabiá, mostrou na prática como, a partir do acesso à assessoria técnica e às políticas públicas de convivência com o semiárido, é possível transformar sua propriedade aumentando a variedade na produção, recuperando o solo, estocando água, aumentando a renda e garantindo segurança e soberania alimentar e nutricional, tendo como base os princípios agroecológicos que buscam  garantir qualidade de vida para as famílias junto a preservação ambiental. No dia seguinte, houve a Plenária Oficial da Caatinga Climate Week, evento realizado pelo Centro Sabiá e o Instituto Socioambiental com o objetivo de aumentar a visibilidade do bioma Caatinga o colocando no centro do debate climático global em preparação para a COP 30, levantando debates como financiamento, preservação e respeito aos territórios originários e tradicionais.

 

A visita aos quilombos Estivas e Castainho em Garanhuns (PE) também foi um momento de grande importância na trilha formativa. A juventude acompanhou como essas comunidades têm se organizado frente aos desafios e lutas vivenciadas cotidianamente na defesa de seus territórios diante das frequentes tentativas de invasões territoriais e socioculturais sofridas. Neste território, houve a visita a casas de farinha, hortas comunitárias, atividades de meliponicultura, além de atividades culturais que evidenciaram um movimento de defesa da cultura produtiva, religiosa e artística dos quilombos. No último dia, aconteceu a Plenária de encerramento do Caatinga Climate Week, que aconteceu no Sítio Arqueológico Catimbau com o protagonismo dos povos indígenas.

Durante esses dias, a juventude se dividiu entre plenárias e visitas em experiências locais que intensificaram o debate. A experiência das mulheres negras dos quilombos Estivas e Castainho no município de Garanhuns (PE), por exemplo, evidenciou os desafios e lutas vivenciadas por essas comunidades na defesa de seus territórios frente as frequentes tentativas de invasões territoriais e socioculturais sofridas, deixando evidentes os processos de resistências ancestrais que são construídos na coletividade dessas e desses sujeitos.

A caatinga é um território de beleza, diversidade e muita vida, mas é também um espaço de disputa que segue sendo atacado e, portanto, defendido com muita luta e resistência. Os jovens precisam ser ouvidos, ocupando espaços de tomada de decisões de forma estratégica para que entendam que não querem, dentro dos nossos territórios, projetos de desenvolvimento que destroem e desmatam a caatinga. As juventudes precisam estar presentes nesse processo, mantendo-se engajadas e atentas às questões climáticas na luta por justiça ambiental e por uma convivência mais consciente e harmônica com o meio ambiente.

 

 

Texto: Joice Santos | Edição: Lucilene Rosário | Fotos: Joice Santos, Xênia Lopez e Júlia Garcia