“Hoje é a primeira vez que eu aqui vim vadiar, hoje é a primeira vez que eu aqui vim vadiar, para o ano se Deus quiser eu aqui há de tornar, para o ano se Deus quiser eu aqui há de tornar. Ô dono da casa eu ouvi a sua voz, ô dono da casa eu ouvi a sua voz, nessa casa tem goteira ela vai pingar em nós, nessa casa tem goteira ela vai pingar em nós. Ô dona da casa eu ouvi a sua voz, ô dona da casa eu ouvi a sua voz, dar um pulo na cozinha vai fazer café pra nós, dar um pulo na cozinha vai fazer café pra nós”. (canto de reisado – Letra: Gudinho, da comunidade de bela vista).
No dia 05/08, Sexta Feira, foi inaugurada mais (02) duas casas de sementes do projeto SEMENTES DO SEMIÁRIDO, gestado pelo Cedasb/Asa na comunidade Roçado Grande na região Poções/BA e na comunidade de Jatobá região de Belo Campo/BA.
Casa de sementes é uma festa, a cultura local de cada lugar ou comunidade sendo resgatada. Os versos sendo jogados na roda, as guardiãs os guardiões entoando as chulas, as cantorias e brincadeiras de roda e cirandas.
Logo pela manhã na comunidade de Roçado Grande, região de poções/BA, a inauguração se deu com uma celebração voltada à reflexão do Evangelho da vida e às sementes. Vendo as sementes como o princípio de todas as coisas, a fé da comunidade inspirou no nome que também é do Padroeiro da comunidade, sendo então chamada de casa de sementes CORAÇÃO DE JESUS. Em seguida, animadores e coordenação do projeto colocaram seus anseios em relação ao futuro junto às politicas de convivência com o semiárido, o que conquistamos e o que está em jogo com o governo interino. Renato, coordenador do P1+2, em sua fala destacou as conquistas que o semiárido vivenciou nos últimos 15 anos, e o quanto agora vivemos sobre forte ameaça de regressão de direitos. Ele ainda acrescentou “o povo do campo e do semiárido levou um golpe, golpe nas politicas públicas que conquistamos”.
No cair da noite a batida do tambor e do pandeiro se deu na comunidade de Jatobá, Belo Campo/BA, na inauguração da casa de sementes CRIOULAS-JATOBÁ. Lá ouve uma janta comunitária de agradecimentos a todos e todas os/as guardiões e guardiãs das sementes que contribuíram para a construção da casa. Em seguida, partimos em romaria na direção a casa, num momento místico cantando os cantos da nossa gente, dos lutadores e das lutadoras do nosso semiárido. No local Helena Paula, coordenadora do projeto, agradeceu a todos e todas pelo momento lindo e se emocionou com a determinação do povo da comunidade “vocês são merecedores por tudo que ofereceram pra nós aqui hoje, suas alegrias seus cantos e tudo o que de belo têm. Sabemos que nosso futuro é incerto, mas, a casa de sementes é uma conquista de vocês e todos juntos devem zelar por ela e acolher a todos e todas da região, pois ela é também uma casa que acolhimento”, Completou Helena Paula.
Em meio à discussão sobre as sementes crioulas, biodiversidade e as sementes da vida, o seu Osmar, um dos guardiões das sementes na comunidade, para não perder a alegria, disse assim; “já que as sementes crioulas produzem sempre, eu quero me casar com uma mulher crioula” (risos).
Muitas foram as casas de sementes inauguradas na região Sudoeste da Bahia, mas, cada uma teve uma característica própria em sua forma de inaugurar, algumas com uma pitada ligando fé e vida, outras com devoção popular e as tradições culturais enraizada na vida do povo.
Mesmo assim, em cada uma delas o resgate foi lindo. Heranças do povo do semiárido e resquícios de uma gente que soube guardar os saberes e os seus sabores. Agora, através da casa de sementes, as comunidades estão dando um novo vigor à identidade local, cultural, fazendo dessas belezas uma fonte de sabedoria. “sementes também é educação” como disse Cipó, guardião das sementes da comunidade.
Vimos acima o canto Ô DONA DA CASA (Chula) de seu Gudinho da comunidade de Bela Vista que faz parte da casa de sementes Crioulas-Jatobá comunidade de Jatobá. Ele pensava que o projeto ia ser apenas uma casa de guardar sementes e pronto, acabava ali, mas, depois das capacitações entendeu que, junto com a casa e as sementes vinham cultura, fé e as tradições, tudo junto num processo de dialogo, convivência e resgate. “a casa de sementes fez o povo se reunir, cantar, dançar, jogar versos, celebrar a vida, pois, semente também é vida, vocês não acham?” indagou seu Gudinho.
Por: Equipe de Comunicação.