E lá vão Elas…

As mulheres do Olho D’água, com baldes amparados por uma “rudia” de pano envolto na cabeça, sustentando um peso desmedido de desumanidade dos governantes. Situação que outrora eram lembranças de tempos passados agora é rotina de um recente presente “duído”.

“… De sede ninguém pode morrer, ao menos um balde d’água pra tomar e fazer o de comer. Tudo por um pouco d’água: poeira e pó, sol e distancia, ‘quintura’ e dor, dor no corpo e na alma… tudo por um pouco d’água”.

Quando se centraliza um bem que é direito de todos/as dá nisso aí… Quando se abandona políticas públicas que ajudam na convivência com a seca, dá nisso aí… O grito de Dom José Rodrigues ainda é atual: “o problema não é a seca, são as cercas”. Água é vida, é saúde promove a dignidade e liberdade. Mas sua centralização faz das pessoas escravas, acorrentadas por uma necessidade que lhes são negadas e encurraladas, deixam de viver e passam a buscarem a sobrevivência.

E lá vão elas… Pois, quem quiser levante cedo e vai buscar “aculá”, porque aqui o pote já secou e a cisterna que antes guardava água da chuva, agora nem água da “pipa” guarda mais… “Levaram” nosso direito à agua cristalina e jogaram num tanque só, água mesmo, só depois daquela cerca, mas nosso Senhor não desampara ninguém. Quem desampara são os governantes soberbos e cheios de desculpas esfarrapadas, que não sabem o que é ter que andar léguas e léguas para buscar uma lata d’água pra fazer quase tudo e passar o dia.

Queria eu escrever, e isso não passasse de uma simples crônica ou poesia fora de uma realidade. Mas aí estão Elas: as mulheres do Salobro, região de Vitória da Conquista-BA, numa caminhada que mais parece uma penitência em busca de um pouco d’água. E lá vão elas… Amanhã cedo elas cumprirão sua sina novamente, pois o pote irá secar e independente do pó, do “quinturão”, da dor na coluna, da distancia e da humilhação (por não ter algo que lhes é de direito), terão de ir e voltar!

Imagens – Terêncio e Milena (técnicos de ATER/Cedasb), registro em: 03 de Março de 2017, comunidade Olho D’água da Serra, região também conhecida como Salobro, município de Vitória da Conquista-BA.

Texto: Heber, Comunicação CEDASB.