Não podemos falar ou cantar nosso Semiárido sem levar em consideração sua gente e seu chão, pois é isso que faz do nosso Sertão uma poesia singular e silenciosa, aos olhos de quem só consegue enxergar as belezas e riquezas com as vistas do coração. É dessas raízes originárias que nasce sua cultura, seus costumes e tradições; é desse princípio que conseguimos ver e sentir de fato, o semiárido e sua gente, um chão diverso e um povo ‘sertanejamente’ sofisticado.

Só no sertão tem dessas coisas, tem de tudo um pouco e um pouco de tudo que faz dessa gente ser que é: simples, acolhedora, festeira e persistente, que transparece um semblante que cativa e faz a gente se sentir como se estivéssemos no terreiro de casa. Tem gente simples e sofisticada, têm andanças e festanças, tem silêncio e sentimento de esperança, têm carreira de menino e carreiro de tatu, tem dança e samba de terreiro, tem folia e cantoria. Tem sala de aula debaixo de umbuzeiro, tem professor nato que ensina a partir de sua história de vida, vida essa que o graduou como um verdadeiro ‘doutor do semiárido’. No sertão é assim: tem dessas coisas e muito mais; coisas, costumes e tradições que identificam e mistifica esse povo fazendo-o ser assim.

Dentro deste vasto e diversificado Semiárido existe uma porção de outros sertões, um monte de “mundos” dentro desse grande mundo, que se regem por leis contextualizadas conforme a realidade própria de cada povo. Sertões de tantas “Luzias”, “Josés”, e muitas “Josefinas” são tantos os costumes e tradições, que se expressam em suas danças, dizeres, crenças e devoções. Tudo e todos estão interligados por uma mística que só existe pelos lados desse nosso rico Sertão. O olhar de um velho sertanejo sentado em seu tamborete ao cair da tarde, o cantar da cigarra no umbuzeiro e o prenúncio angustiante da acauã que, penosamente canta por entre a mata branca da caatinga semiárida. Tudo isso é cultura enraizada que floriu e frutificou em fruto bom, frutos de uma forte identidade que se desvela numa cultura de resistência e convivência.

Para se perceber toda essa riqueza e diversidade em nosso Semiárido é preciso cultivar um sentimento interior que faça com que, a mesma alegria que toma conta do sertanejo quando este ver a chuva ensopar o chão esturricado, seja a mesma alegria e esperança que não deixa o sertanejo desanimar em tempos de estiagem. Pois, em sua sofisticação e inteligência, o homem e a mulher do semiárido aprenderam a se reinventarem, e assim resistem e convivem. Sendo assim, a cultura do Semiárido pode ser traduzida em persistência, resistência e convivência, pois se nos cordéis, cantorias e versos rimados retratam suas alegrias e tristezas. Suas crenças e tradições remetem essencialmente no auxílio do divino junto às lutas de cada dia.

Por, Heber  – CEDASB